segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Relato de um surto de consciência

Estaciono o carro em um posto de gasolina perto das 13h. Parei para comer alguma coisa vulgar - como diria um colega jornalista. Estava a caminho da praia em um dia da minha vidinha tranquila. Peço meu sanduíche de peito de peru. Não costumo esconder minhas manias: conferi todo o material dentro do pão. Tudo ok. A garçonete observa com repúdio a minha atitude. Ao meu lado constato a presença de um cara moreno, ligeiramente barrigudo e fortemente embriagado. Ele balbucia diversas palavras. A minha educação me adverte: não devo falar com estranhos, principalmente os bêbados. Minha curiosidade supera minha educação e logo inicio contato com aquele alienígena. Não, não é preconceito. É curiosidade mesmo. O cara mal-vestido, bêbado, que dizia não ter onde morar me desperta curiosidade assim como um alienígena o faria. Não é alusão. Nós dois vivemos literalmente em mundos diferentes. Ele sem ter onde morar, gasta os poucos centavos que tem em birita barata. Eu verifico o meu sanduíche de posto com desdém, afinal apenas parei ali para não correr o risco de perder o sol em um belo dia de praia em Jurerê. Troco algumas palavras, ele não fala nada com nada, mas parece achar legal o tal contato ET-TELEFONE-MINHA CASA. Afinal, todos no recinto o tratavam como louco. Acabei minha refeição e parti. Quando pequena chorava ao observar alguma injustiça na rua. Perguntava para minha mãe porque algumas pessoas passavam necessidade. Ela dizia para pensar em algo bom para aquele indivíduo que o meu desejo se realizaria. Acho que não tive fé o suficiente. Cresci e tudo continua igual. Apenas uma coisa mudou: não choro mais, pois aprendi a aceitar o inaceitável. E assim caminha a humanidade...